Solitude

Solitude
À beira do Rio Negro...

domingo, 26 de junho de 2011

Para o niver da Calú - 2010...



O Dia da Chegada


Chegaste sem alardes,
Sem me avisar que já estavas no mundo.
E eu continuei inocente o meu descaminho,
A tratar-te como um sonho apenas.

Chegaste sem disfarces,
Mas escondida de mim pela distância.
E eu segui a esbarrar contigo pela noite
A chamar-te inutilmente por um nome outro.

Chegaste por um desvio
Desviada de mim por falsos sinais.
E eu perto de ti cheguei por tantas vezes,
Sem sabê-lo, em pranto e desengano.

E quando enfim chegaste ao meu abraço,
Como um rio doce que alcançou a foz
Reunimo-nos, amálgama salobro,
Delta, destino diluído em oceano...

Manaus, 19 de julho de 2010.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sobre um texto de Erich Fromm





“(...)Se uma pessoa ama apenas uma outra pessoa e é indiferente ao resto dos seus semelhantes, seu amor não é amor, mas um afeto simbiótico, ou um egoísmo ampliado.(...) De fato, acredita-se mesmo que a prova da intensidade do amor está em não amar ninguém além da pessoa “amada”. (...)Tal atitude pode ser comparada à de alguém que queira pintar mas, em vez de aprender a arte, proclama que lhe basta esperar pelo objeto certo, passando a pintá-lo belamente quando o encontrar. Se verdadeiramente amo a alguém, então amo a todos, amo o mundo, amo a vida. Se posso dizer a outrem, “Eu te amo”,  devo ser capaz de dizer: “Amo em ti a todos, através de ti amo o mundo, amo-me a mim mesmo em ti”.

Erich Fromm in “A Arte de Amar”




Amor Errado



Amaria a qualquer ser
Que a ti fosse semelhante
(Semelhança pálida que fosse)
E não lhe seria indiferente jamais
Se tu não fosses tão diferente
E fossem todos tão iguais...

Daria a qualquer um o meu afeto
Como num contágio simbiótico
O mundo e o meu amor errado
Egoísmo revisto e ampliado
Não fosse o meu querer por ti apenas
Algo mesquinho, inútil, abjeto...

Aprenderia a arte de amar,
O amor mais que perfeito
Se meu amor fosse o sujeito
E se tu fosses o objeto
Explícito, cristalino, direto
E não verbo intransitivo irregular

Então, apenas proclamo: Te amo!
E se esse é o amor errado
Deixarei de lado
A mesmice do mundo e seus iguais
Amarei a ti somente
Pintarei o somente belo que há em ti
Aguardo apenas os teus sinais...

 Manaus, 31 de março de 2003.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Impressionante como eu sou o mesmo após 30 anos...Esse foi escrito com 20 anos. Vejam o post dos meus 50...





Ânsia

As folhas
Estão longe de começar a cair,
Mas eu já fico imaginando
Aquele amarelo seco.

Tudo, porém, parece longe...
As folhas
Nem imaginam o outono
Como eu não me imagino
Em qualquer outra estação.

Meu coração segue vagando,
Parece perder calor.
Talvez seja o outono
Ou talvez seja apenas uma ânsia
De pisar em folhas secas.

Meu coração segue o seu caminho amarelo.


Rio, 11 de março de 1980.