Solitude

Solitude
À beira do Rio Negro...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Eu e Deus....




Tu


Tu existes
Para que a dimensão do impossível
Seja-me dada.

E inexistes
Onde é preciso
Que a perfeição jamais seja tocada.

Tu vives
Quando o tempo
Do eterno chega ao fim.

E morres
Onde tudo é infinito
Mas não me resta nada.


Manaus, 22 de novembro de 2005

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Amores virtuais...




O Que És?

Quero saber o que és.

Não és corpo.
Sei que não és voz, tampouco
Mas não és lembrança apenas
Pequenas figuras de dança
Que permeiam meu pensamento.
És algo concreto que não toco
Ar que refresca, mas que não respiro,
Sentimento vazio que sufoco.

És desgosto sem sofrimento

És esperança sem esperança
És delícia sem gosto
És fardo sem peso
És beleza sem rosto.

Queria saber o que és
Não o quero mais, todavia.
O que sejas, não mais me importa
Não tocarei teu corpo ou ouvirei tua voz.
Mas mesmo que nunca o sejas algum dia,
Serás, ainda que abstrata,
Para sempre a minha amada.

Mesmo que sejas nada...

Manaus, 29 de março de 2004

domingo, 24 de abril de 2011

O real do amor é a fantasia...




Quimeras

Se o real do amor
É a fantasia
És então para mim
A fantasia no real.

O fim do meu dilema
Entre sonho e destino
Meu delírio que sangra e pulsa
Como um desafio
Inocente à finitude,
Um guerrear de ilusões
Contra a veracidade dos moinhos.

És o meu caminhar idílico
Para um despertar
Que não encerra o desvario
A insensatez de um rio
Que a tudo arrasta
Às profundezas de seu leito
Mas não descortina a sua foz.

És a fantasia real
De um amor feito de sonhos
Algoz de tudo
Que em verdade existe
Mas que resiste em devaneio apenas
Matéria d’alma divagando
Vaga de lumes rasgando a noite
Fazendo-me intuir a aurora...

Manaus, 02 de fevereiro de 2009

sábado, 23 de abril de 2011

Um dos primeiros que eu fiz para a Calú - sempre o Tempo...



Poemínimo Não Fugaz

Como nos pode ser escassa
Qualquer fração do Tempo
Se é infinito
Cada momento nosso?

Rio, 13 de maio de 1988.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Uma heresia!




Poema Herege


Inverossímil, mas inquestionável
Absurdo, inatingível,
O único Deus em que creio
É o meu amor por ti

Ele não esconde de mim
Teus defeitos ou descaminhos
Antes, os coloca de forma cristalina
Como provação para minha fé

A Ele, Todo-Poderoso
Submeto a minha vontade
Percorrendo o calvário
De tuas negações
(E já O negaste mil vezes...)

Apenas Nele percebo
A esperança e a dor
Do que é ser eterno,
Experimento morte e ressurreição

As chagas se abrem
Açoite, angústia, ferida
Mas a alma, imaculada
Flutua para sempre feliz.
Meu amor por ti é o caminho,
A verdade, a vida...


Manaus, 1º de agosto de 2003

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Para os meus 50 anos...



Outonos(50)


Já são tantos os outonos...
Mas ainda fico a esperar
O vermelho que cai com as folhas
E o seu secar esmaecido,
Esquecido ao pé da amendoeira.

Tomo como certa
A chegada das nuvens,
Do mar cinzento,
Do vento e da melancolia.
(Eu e a minha velha inocência de menino...)

Outonos serão sempre um recomeço
E a solidão desfolhada dos meus passos
Apagar-se-á arrastada pela areia
Não me deixando trilhas para volta
E nem rastros para que me sigam.

Já são tantos os outonos
Mas sei, não serão outros tantos...
Não me lamento por esses que não verei
Nem me escondo naqueles que vivi
Apenas bebo o frio do vento
E afogo meu olhar sem mágoas
No cinza infinito do oceano.


Manaus, 7 de julho de 2010

domingo, 17 de abril de 2011

Relatividade...



Tempo/Espaço

Se não consigo mais tocar-te,
Se o Espaço me nega a tua matéria
O Tempo me permite por vezes te arranhar.
E qualquer canção me serve qual punhal
Que conserva imaculada a tua pele
Mas que por dentro te perfura e faz sangrar.
E se choras ao te ouvir em minha voz
Estou na lágrima que te lava o rosto,
Sou agora líquida matéria que evapora
E tu, a voz na canção do Tempo, infinita, ora.

Manaus, 21 de dezembro de 2004

sábado, 16 de abril de 2011

Acróstico #1 - para Bia, minha filha mais velha...



Bem maior que o maior bem
Estrela intensa, brilho que tem
Arte de anjo, lindo arranjo do caos
Tudo sempre é agora e alegria
Riso que colocas em cada rosto
Imaginas e recrias o mundo a teu gosto
Zabelê assustada assobia:, “é só a Bia...”

Cavalheiro de sonhos...



Príncipe


Amas de verdade
A um príncipe de sonhos
E é amor tão verdadeiro
Que torna real o cavalheiro
E que por sê-lo agora,
A um único ato é condenado:
Tomar-te gentilmente pelas mãos
E cantando, isolar-te do mundo
E ali, transparentes e sozinhos
Serem para sempre felizes
Vivendo juntos em teu sono profundo...

Manaus, 11 de abril de 2007

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O Amor e a inexistência eterna....




A Paz Contigo

                                          Quero estar contigo apenas
E apenas aonde
Nada mais haja em nossa lembrança.
Onde possamos ficar-nos somente
No desencontro do que não somos
E somente se nos for preciso
Ser-nos, imprecisamente,
A nossa própria paz.

Quero estar sempre contigo
Para sempre e um pouco mais.
E depois de nada mais sermos,
Querer-nos mais ainda,
Saber-nos algo além
Do existir e do estar.
Amar-nos sem precisar-nos
E juntos, eternamente, inexistirmos...


Manaus, 11 de maio de 2004.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Às vezes devemos desobedecer....




Pecado

Reconhecer-te foi fácil
Logo soube – era meu sonho
Mas meus olhos estavam abertos,
Conscientes.
E sabiam o que era certo - evitar-te
(“Sonhar somente com os olhos cerrados...”)

Mas num impulso tolo
De um coração menino
Violei o sagrado ao tocar-te
Transformando sonho em destino
Deixando-te escapar
De um mundo aonde
Eras só minha e para sempre
Para outro
Onde mora o pesadelo de perder-te.

Manaus, 14 de março de 2008

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O ciclo do amor...



O Menino e o Fogo



                                          Qual menino que brinca com fogo
                                          Em tempo de estio
                                          Amor é perigo e inocência,
                                          Fagulha dançando na mata seca.


                                          Qual chama que se alastra
No centro da ventania
Amor é calor e encantamento
Ilusão de frescor em queimadura.

Qual lava que consome
Corações incautos e almas puras
Amor é angústia lancinante,
Juízo final, devastação sombria.

Qual esperança que rebrota
De cinzas e sofrimento
Amor é milagre e recomeço
É fogo, brinquedo em mão de menino...


Manaus, 03 de fevereiro de 2004.

Sonhos são para se sonhar




Por Isso Sonho Contigo

Sonho é algo longínquo, distante,
(Duas léguas depois do Impossível)
Para que nele creiamos cegamente
E o avistemos apenas com os olhos cerrados.

Sonho é mais que desejo
É algo sem planos ou estratégias 
É um querer de luz dentro do eclipse
O gosto da tentação sem tentativas.

Por isso sonho contigo
Tuas léguas impossíveis são milhares
Teus olhos improváveis de tão distantes
Mas mesmo cego te quero e te creio.

Por isso sonho contigo
E tenho para ti um plano tolo:
Tentar alcançá-la, de surpresa,
No escuro do Sol à sombra da Lua.

Por isso sonho contigo
Sem procurar saber-te, apenas sonhar-te
Mantendo sempre nítida e intocada
A miragem da tua ausência.

Manaus, 23 de novembro de 2004.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Todos os meus caminhos...



Caminhos

Passam por ti todos os caminhos.
Aquele à beira-mar em dia cinzento,
Outro orvalhado de amanhecer
E mesmo um que é só asfalto,
Sem uma flor sequer...

Os pontos de encontro,
Rotas sombrias de fuga,
As voltas que o mundo dá,
E a saída para todos os becos
Estão todos por onde passas
E todos passam por onde estás.

Eu espreito e persigo-te apenas...
(O meu caminho é buscar-te)

Manaus, 07 de janeiro de 2009

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Minha menina - para minha mãe e sua seguidora: minha filha Heloisa



Minha Menina

Para minha mãe...
Tu, que corrias inocente pela casa
Levando contigo a tua parte em meus segredos
Brincavas com as formas no barro,
Moldavas a mera suposição
Que nem mesmo eu era ainda.

Tu, que jogavas pedras no rio,
Que sonhavas com desenhos em espiral
E guardavas desde sempre
Os primeiros passos do meu caminho.

Tu, que quando te cortavas,
Deixavas, imprudente,
Que de ti escorresse o nosso sangue
Que se misturava à poeira da nossa estrada.

Tu, a mesma menina
Que me arrebataria do nada,
E me condenaria à existência
Soltando-me às feras reais
Eu, um menino feito de fantasias.

Hoje tenho em meus braços
A menina que embalo para ti,
O novo passo do teu destino.
Devolvo-te por ela
A vida que me deste,
Vingança na sua mais linda forma.

E quando me vejo no espelho
Do teu olhar nos olhos dela
Percebo que o amor é cruel mas real,
E nossa vida é bela, mas apenas sonho....

Manaus, 6 de novembro de 2008

Tua dor...



Tua Dor


Tua dor é o meu espaço
De ti o traço que mais compreendo
Minha alameda de árvores tristes
Por onde me permites caminhar-te.

Tua dor é o meu momento
Em ti, minha possibilidade mera
De ver-nos, planetas alinhados
Em eterno sofrimento, infinito fugaz.

Tua dor é a jóia rara
Que sobre ti, deixa-me rolar em gotas
Espalhar-te, pungente, em brilho
Dormente, que te faz doer em mim.


Manaus, 05 de março de 2008