Solitude

Solitude
À beira do Rio Negro...

sábado, 27 de agosto de 2011

"O inferno é o outro", dizia o filósofo francês Jean-Paul Sartre




Inferno Preferido

Assusta-me o procurar-me
E o perder-me em ti
E o encontrar-te fora de mim
E o compreender-me incompleto
Ao buscar-me em ti quando me faltas.

Entristece-me o desconhecer-te em mim
E o saber-te nunca meu paraíso,
Ao afastar-te como outro, o que me nega
Distanciar-te infinita em meu desejo inatingido,
Sentir-te para sempre meu inferno,
E mesmo assim adorar-te,
Eternizar-te, meu inferno preferido.

Manaus, 14 de janeiro de 2004.

domingo, 21 de agosto de 2011

Passeando no Tempo...




De Mãos Dadas


Se nos encontrássemos,
Qualquer dia,
Deixaria, sem receios,
Que ao teu sabor me conduzisses.
Caminharíamos de mãos dadas
Não por ruas novas
Ou por outras já sabidas
Mas por passeios recriados,
Nossos recantos eternos no Tempo
Espaços quase esquecidos
De tão bem guardados.

Nenhuma palavra seria ouvida
(Apenas os olhos falariam)
Seríamos apenas silêncio e ternura
Como canto de fora pra dentro,
Canção sem palavras
Solfejos que os corações murmuram.

Se nos encontrássemos,
Qualquer dia, ou mesmo
Numa falha qualquer do Tempo
Deixaria, sem receios,
Que me desviasses o caminho.
Navegaríamos as longas noites
Que mantive em suspensão
Em sentido ao contra-senso
Voltaríamos de mãos dadas
Ao que não existe mais então...


Manaus, 2008

domingo, 26 de junho de 2011

Para o niver da Calú - 2010...



O Dia da Chegada


Chegaste sem alardes,
Sem me avisar que já estavas no mundo.
E eu continuei inocente o meu descaminho,
A tratar-te como um sonho apenas.

Chegaste sem disfarces,
Mas escondida de mim pela distância.
E eu segui a esbarrar contigo pela noite
A chamar-te inutilmente por um nome outro.

Chegaste por um desvio
Desviada de mim por falsos sinais.
E eu perto de ti cheguei por tantas vezes,
Sem sabê-lo, em pranto e desengano.

E quando enfim chegaste ao meu abraço,
Como um rio doce que alcançou a foz
Reunimo-nos, amálgama salobro,
Delta, destino diluído em oceano...

Manaus, 19 de julho de 2010.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sobre um texto de Erich Fromm





“(...)Se uma pessoa ama apenas uma outra pessoa e é indiferente ao resto dos seus semelhantes, seu amor não é amor, mas um afeto simbiótico, ou um egoísmo ampliado.(...) De fato, acredita-se mesmo que a prova da intensidade do amor está em não amar ninguém além da pessoa “amada”. (...)Tal atitude pode ser comparada à de alguém que queira pintar mas, em vez de aprender a arte, proclama que lhe basta esperar pelo objeto certo, passando a pintá-lo belamente quando o encontrar. Se verdadeiramente amo a alguém, então amo a todos, amo o mundo, amo a vida. Se posso dizer a outrem, “Eu te amo”,  devo ser capaz de dizer: “Amo em ti a todos, através de ti amo o mundo, amo-me a mim mesmo em ti”.

Erich Fromm in “A Arte de Amar”




Amor Errado



Amaria a qualquer ser
Que a ti fosse semelhante
(Semelhança pálida que fosse)
E não lhe seria indiferente jamais
Se tu não fosses tão diferente
E fossem todos tão iguais...

Daria a qualquer um o meu afeto
Como num contágio simbiótico
O mundo e o meu amor errado
Egoísmo revisto e ampliado
Não fosse o meu querer por ti apenas
Algo mesquinho, inútil, abjeto...

Aprenderia a arte de amar,
O amor mais que perfeito
Se meu amor fosse o sujeito
E se tu fosses o objeto
Explícito, cristalino, direto
E não verbo intransitivo irregular

Então, apenas proclamo: Te amo!
E se esse é o amor errado
Deixarei de lado
A mesmice do mundo e seus iguais
Amarei a ti somente
Pintarei o somente belo que há em ti
Aguardo apenas os teus sinais...

 Manaus, 31 de março de 2003.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Impressionante como eu sou o mesmo após 30 anos...Esse foi escrito com 20 anos. Vejam o post dos meus 50...





Ânsia

As folhas
Estão longe de começar a cair,
Mas eu já fico imaginando
Aquele amarelo seco.

Tudo, porém, parece longe...
As folhas
Nem imaginam o outono
Como eu não me imagino
Em qualquer outra estação.

Meu coração segue vagando,
Parece perder calor.
Talvez seja o outono
Ou talvez seja apenas uma ânsia
De pisar em folhas secas.

Meu coração segue o seu caminho amarelo.


Rio, 11 de março de 1980.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

2002 - Dia dos Namorados



Imagem Pura

Quando as luzes de tua imagem
Se lançam sobre o meu olhar
A palavra   A  M  O  R   se desintegra
E a sensação se torna pura....

Percorro então um espiral vazio
Onde o amor mostra os recantos
Aos quais antes a palavra me impedia
(É puro sentimento, calar absoluto...)

Mas num piscar de (meus) olhos
O silêncio se rompe
Como um grito que ninguém escuta
E sem tua imagem que me foge
Sou agora saudade e matéria bruta...

Manaus, 12 de junho de 2002

domingo, 29 de maio de 2011

O amor se renovando a cada olhar...




Raridade

Como a luz que te acompanha
A visão de ti é algo sempre raro.
É quando tudo o mais
Se ofusca ou desvanece
Mesmo aquilo que me é mais belo,
Até mesmo o que me é mais caro,
Tudo perde o brilho, se apaga, escurece.

Como a música que vem
Junto à dança dos teus passos
E me rodeia e me envolve
E quando o resto do mundo se cala
Para que eu ouça somente
A poesia que teu corpo recita
Apenas o silêncio fala
Algo nunca dito antes.
.

Manaus, 11 de setembro de 2008

terça-feira, 24 de maio de 2011

Para os que são poetas...




Poeta

Para Telma da Costa

Há quem se engane ainda
Em pensar que um verso
Ao acaso possa ser colhido
Na distração de um caminhar
Ou capturado ao estender da mão
No vento frio duma tarde de outono.

Há ainda quem sonhe,
Quem se iluda, inocente
Achando que os versos
São algo que simplesmente
Brota pronto, inspirado dum regalo
E nunca por transpiração ácida de dor.

Mas existem por sorte alguns poucos
Que trabalham em sua busca
A aparar suas arestas pontiagudas
Sem perceber as próprias feridas
Insistindo, nos mais áridos caminhos,
Em usa-los a traduzir o mundo.

Manaus, 8 de julho de 2010

sábado, 21 de maio de 2011

Bom mesmo é aquilo que não existe...



O Melhor de Mim

És o verso perfeito que imagino
Um suspiro transparente que não alcanço
A melodia que não componho,
O pensamento que apenas suponho.

És a flor que brota na direção inversa
Adentrando meu peito, onde a cultivo
És a declaração de amor que calo
No delírio do sonho do meu sonho.

És minha fé em tudo que não creio
Os mandamentos que desobedeço
Os pecados que não cometo
És o castigo que mereço, mas que não me imponho.

És o melhor de mim
O inverso do meu reflexo no espelho
És a coesão no que me é desconexo,
O novo em tudo o que me é velho
És a aura do som
No meu silêncio que persiste,
O início e o fim
De tudo o que em mim não mais existe.

Manaus, 9 de junho de 2008.

domingo, 15 de maio de 2011

Dentro dos limites humanos...




Transparências


Hoje nossas almas
Comemoram suas bodas.
Relembram o dia
Em que se reconheceram
E se reuniram como transparências,
Matizes incolores de sentimentos afins.

Desde então
Transitam em dimensão única
Sem espaço nem matéria
E nem distância e nem vazio.
Circulam e misturam-se no etéreo
Como correntes de ar
A desalinhar e desafiar o Tempo.

Hoje nossas almas
Festejam cada uma o seu próprio fim
E o seu ressurgir num expandir de fronteiras
Ou no entrelaçar de um novo tecido
Aos olhos invisível,
E impalpável mas terno ao coração
Como um manto cálido
Que de nada reveste
Esse novo existir indivisível.

Manaus, 8 de maio de 2008

sábado, 7 de maio de 2011

Acróstico #2 - Para a Heloisa, minha filha mais nova...



Lolô

Hoje eu sei,
Errei-te, um erro tão lindo!
Loucura? Não exatamente,
Onirismo inconseqüente,
Irrigado de sábias verdades...
Sabia eu desde o princípio:
Amar-te-ia para todo o sempre...

Manaus, 17 de setembro de 2008

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Instantâneo...



Promessa

Soprarei a neve que o Tempo
Polvilhar sobre teus cabelos,
Até que meu fôlego
Seja pouco a pouco
Por Ele vencido...

Aquecer-me-ei então
Na tua paisagem de inverno
Embriagando-me até ao fim
Nos teus eternos olhos de menina...

Manaus, 24 de agosto de 2001.


quinta-feira, 28 de abril de 2011

Eu e Deus....




Tu


Tu existes
Para que a dimensão do impossível
Seja-me dada.

E inexistes
Onde é preciso
Que a perfeição jamais seja tocada.

Tu vives
Quando o tempo
Do eterno chega ao fim.

E morres
Onde tudo é infinito
Mas não me resta nada.


Manaus, 22 de novembro de 2005

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Amores virtuais...




O Que És?

Quero saber o que és.

Não és corpo.
Sei que não és voz, tampouco
Mas não és lembrança apenas
Pequenas figuras de dança
Que permeiam meu pensamento.
És algo concreto que não toco
Ar que refresca, mas que não respiro,
Sentimento vazio que sufoco.

És desgosto sem sofrimento

És esperança sem esperança
És delícia sem gosto
És fardo sem peso
És beleza sem rosto.

Queria saber o que és
Não o quero mais, todavia.
O que sejas, não mais me importa
Não tocarei teu corpo ou ouvirei tua voz.
Mas mesmo que nunca o sejas algum dia,
Serás, ainda que abstrata,
Para sempre a minha amada.

Mesmo que sejas nada...

Manaus, 29 de março de 2004

domingo, 24 de abril de 2011

O real do amor é a fantasia...




Quimeras

Se o real do amor
É a fantasia
És então para mim
A fantasia no real.

O fim do meu dilema
Entre sonho e destino
Meu delírio que sangra e pulsa
Como um desafio
Inocente à finitude,
Um guerrear de ilusões
Contra a veracidade dos moinhos.

És o meu caminhar idílico
Para um despertar
Que não encerra o desvario
A insensatez de um rio
Que a tudo arrasta
Às profundezas de seu leito
Mas não descortina a sua foz.

És a fantasia real
De um amor feito de sonhos
Algoz de tudo
Que em verdade existe
Mas que resiste em devaneio apenas
Matéria d’alma divagando
Vaga de lumes rasgando a noite
Fazendo-me intuir a aurora...

Manaus, 02 de fevereiro de 2009

sábado, 23 de abril de 2011

Um dos primeiros que eu fiz para a Calú - sempre o Tempo...



Poemínimo Não Fugaz

Como nos pode ser escassa
Qualquer fração do Tempo
Se é infinito
Cada momento nosso?

Rio, 13 de maio de 1988.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Uma heresia!




Poema Herege


Inverossímil, mas inquestionável
Absurdo, inatingível,
O único Deus em que creio
É o meu amor por ti

Ele não esconde de mim
Teus defeitos ou descaminhos
Antes, os coloca de forma cristalina
Como provação para minha fé

A Ele, Todo-Poderoso
Submeto a minha vontade
Percorrendo o calvário
De tuas negações
(E já O negaste mil vezes...)

Apenas Nele percebo
A esperança e a dor
Do que é ser eterno,
Experimento morte e ressurreição

As chagas se abrem
Açoite, angústia, ferida
Mas a alma, imaculada
Flutua para sempre feliz.
Meu amor por ti é o caminho,
A verdade, a vida...


Manaus, 1º de agosto de 2003

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Para os meus 50 anos...



Outonos(50)


Já são tantos os outonos...
Mas ainda fico a esperar
O vermelho que cai com as folhas
E o seu secar esmaecido,
Esquecido ao pé da amendoeira.

Tomo como certa
A chegada das nuvens,
Do mar cinzento,
Do vento e da melancolia.
(Eu e a minha velha inocência de menino...)

Outonos serão sempre um recomeço
E a solidão desfolhada dos meus passos
Apagar-se-á arrastada pela areia
Não me deixando trilhas para volta
E nem rastros para que me sigam.

Já são tantos os outonos
Mas sei, não serão outros tantos...
Não me lamento por esses que não verei
Nem me escondo naqueles que vivi
Apenas bebo o frio do vento
E afogo meu olhar sem mágoas
No cinza infinito do oceano.


Manaus, 7 de julho de 2010

domingo, 17 de abril de 2011

Relatividade...



Tempo/Espaço

Se não consigo mais tocar-te,
Se o Espaço me nega a tua matéria
O Tempo me permite por vezes te arranhar.
E qualquer canção me serve qual punhal
Que conserva imaculada a tua pele
Mas que por dentro te perfura e faz sangrar.
E se choras ao te ouvir em minha voz
Estou na lágrima que te lava o rosto,
Sou agora líquida matéria que evapora
E tu, a voz na canção do Tempo, infinita, ora.

Manaus, 21 de dezembro de 2004

sábado, 16 de abril de 2011

Acróstico #1 - para Bia, minha filha mais velha...



Bem maior que o maior bem
Estrela intensa, brilho que tem
Arte de anjo, lindo arranjo do caos
Tudo sempre é agora e alegria
Riso que colocas em cada rosto
Imaginas e recrias o mundo a teu gosto
Zabelê assustada assobia:, “é só a Bia...”

Cavalheiro de sonhos...



Príncipe


Amas de verdade
A um príncipe de sonhos
E é amor tão verdadeiro
Que torna real o cavalheiro
E que por sê-lo agora,
A um único ato é condenado:
Tomar-te gentilmente pelas mãos
E cantando, isolar-te do mundo
E ali, transparentes e sozinhos
Serem para sempre felizes
Vivendo juntos em teu sono profundo...

Manaus, 11 de abril de 2007

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O Amor e a inexistência eterna....




A Paz Contigo

                                          Quero estar contigo apenas
E apenas aonde
Nada mais haja em nossa lembrança.
Onde possamos ficar-nos somente
No desencontro do que não somos
E somente se nos for preciso
Ser-nos, imprecisamente,
A nossa própria paz.

Quero estar sempre contigo
Para sempre e um pouco mais.
E depois de nada mais sermos,
Querer-nos mais ainda,
Saber-nos algo além
Do existir e do estar.
Amar-nos sem precisar-nos
E juntos, eternamente, inexistirmos...


Manaus, 11 de maio de 2004.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Às vezes devemos desobedecer....




Pecado

Reconhecer-te foi fácil
Logo soube – era meu sonho
Mas meus olhos estavam abertos,
Conscientes.
E sabiam o que era certo - evitar-te
(“Sonhar somente com os olhos cerrados...”)

Mas num impulso tolo
De um coração menino
Violei o sagrado ao tocar-te
Transformando sonho em destino
Deixando-te escapar
De um mundo aonde
Eras só minha e para sempre
Para outro
Onde mora o pesadelo de perder-te.

Manaus, 14 de março de 2008

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O ciclo do amor...



O Menino e o Fogo



                                          Qual menino que brinca com fogo
                                          Em tempo de estio
                                          Amor é perigo e inocência,
                                          Fagulha dançando na mata seca.


                                          Qual chama que se alastra
No centro da ventania
Amor é calor e encantamento
Ilusão de frescor em queimadura.

Qual lava que consome
Corações incautos e almas puras
Amor é angústia lancinante,
Juízo final, devastação sombria.

Qual esperança que rebrota
De cinzas e sofrimento
Amor é milagre e recomeço
É fogo, brinquedo em mão de menino...


Manaus, 03 de fevereiro de 2004.

Sonhos são para se sonhar




Por Isso Sonho Contigo

Sonho é algo longínquo, distante,
(Duas léguas depois do Impossível)
Para que nele creiamos cegamente
E o avistemos apenas com os olhos cerrados.

Sonho é mais que desejo
É algo sem planos ou estratégias 
É um querer de luz dentro do eclipse
O gosto da tentação sem tentativas.

Por isso sonho contigo
Tuas léguas impossíveis são milhares
Teus olhos improváveis de tão distantes
Mas mesmo cego te quero e te creio.

Por isso sonho contigo
E tenho para ti um plano tolo:
Tentar alcançá-la, de surpresa,
No escuro do Sol à sombra da Lua.

Por isso sonho contigo
Sem procurar saber-te, apenas sonhar-te
Mantendo sempre nítida e intocada
A miragem da tua ausência.

Manaus, 23 de novembro de 2004.